Depoimento de um contador de piadas - texto hilárioooo!!!!? - Contadores de Piadas Anônimos

Oi, meu nome é hilário.
Eu vim aqui porque cheguei no fundo do poço.
No começo a gente acha que é só uma fase, que vai passar, por isso eu procurei o Contadores de Piadas Anônimos.
Eu comecei a perceber que era um contador de piadas compulsivo, ainda muito novo, quando eu tava no colégio.
Quando no recreio, os meus coleguinhas iam bricar de pega-pega, polícia e ladrão, de cabra-cega, eu só queria saber de contar piadas.
Minha primeira expreriência ainda inocente foi: "O que era um pontinho amarelo em cima do prédio, era um fandangos suicida."
Eu vi meu tio babaca falando isso e fiquei fascinado pelas piadas dos pontinhos amarelos, eu sabia todas.
E outras tão inocentes quanto, conhece a piada do: "não, nem eu, não, nem eu"?
E quando minha mãe ia servir a sobremesa de pavê, e perguntava "-pra vê ou pra comer?"
Ficava contando os dias pro carnaval chegar só pra poder perguntar a um amigo se queria ver a mangueira entrar.
Os meus pais não se importavam com isso, porque meu pai contava piada em casa, e ele nem percebeu quando no colégio parei de lanchar, juntei o dinehiro da merenda de dois meses e comprei o livro de anedotas do Ari Toledo.
Me lembro da sensação quando eu vi ali, na página 14 um casal de portugês que ia pegar o avião de volta pra Lisboa com seu gambazinho de estimação e o gambazinho não podia entrar no avião, entao Manoel fala pra Maria esconder o gambá debaixo da saia, "-mas e o cheiro??", "-Ah, Maria o gambá que se dane!!"
Fiquei fascinado!!!!
Aquilo mexeu comigo, e uma coisa leva a outra, e eu comecei a pegar mais pesado, e um professor achou na minha mochila um disco do Costinha, e meus pais foram
chamados no colégio.
Sim, porque no colégio não conseguia responder mais nenhuma pergunta, era só na base da piada.
Quando um professor chegava pra mim perguntando o que é um xiita eu respondia que era a maaacaaacaa do Taarzzaaan.
É, eu me lembro de uma vez com dona Olga, professora de história, muito simpática essa dona Olga.
Dona Olga era baixinha... muiiiiiiitoo baixinha, tipo muiiiiitoo,e eu disse que dona oLga não podia usar O.B porque tropeçava na cordinha.
A turma inteira riu, mas dona Olga não gostou tanto assim... E eu fui expulso do colégio, e de outro colégio, e de outro colégio, até que eu tive que parar de estudar, até porque eu tava pegando muito pesado, já tava começando a achar o João Cléber engraçado.
Aos poucos fui perdendo os amigos, sim porque um amigo me ligava precisando da minha amizade, do meu carinho, do meu aconchego, do meu ombro amigo, dizia que tinha sido largado pela mulher, contava uma piada de corno, o outro dizia que tava passando necessidade, contava uma de pobre.
E era só piada, piada, piada. Tava quase tendo uma overdose porque eu misturava, misturava tanto que uma vez contei a piada de um pagagaio português que era bicha e se chamava Isaque.
A minha vó morreu de desgosto. Meus parentes pararam de falar comigo, eu era obrigado a contar piadas pra eles na secretária eletrônica porque eles não me atendiam mais.
Eu não tinha amigos, eu não tinha familia, eu não tinha trabalho, passava necessidades. Eu me alimentava graças a bondade de seu Vasco, o portugês dono do botequim perto da minha casa.
Seu Vasco tinha pena de mim, me dava de comer duas vezes... por semana! E assim foi até que o dia que falei pra ele Qual é o único português que serve para alguma coisa? O Manuel de Instruções.
Seu Vasco não gostou muito, virou-se pra mim e disse: "-Hilário, você não sabe, que não pode contar uma piada assim pra um português??" "-Não tem problema seu Vasco eu conto de novo pro senhor entender!", mas não era essa a questão... A questão era que português não gostava de ouvir uma piada de português, mas eu tinha que contar uma pro único portugês que eu conhecia!
E agora eu tô aqui. Eu tô aqui por que quero mudar! Eu vou mudar!
O importante é não fazer o primeiro trocadilho.
A três dias eu não conto uma piada sequer.
Só por hoje!

Texto de Bruno Mazzeo (com algumas pequenas adaptações)